40ª. SESSÃO SOLENE DA 4ª. SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA IX LEGISLATURA.

 


Em 2 de outubro de 1986.

Presidida pelo Sr. André Forster - Presidente.

Secretariada pelo Sr. Isaac Ainhorn - 1º Secretário.

Às 14h10min, o Sr. André Forster assume a Presidência.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada à entrega do título honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. José de Paiva Netto, Diretor Mundial da Legião da Boa Vontade.

Solicito aos Srs. Líderes de Bancada que conduzem ao Plenário as autoridades e personalidades convidadas. (Pausa.)

Convido a tomarem assento à Mesa: Sr. José Simões de Paiva Netto, Presidente Mundial da Legião da Boa Vontade; Sra. Maria das Graças Paulote de Paiva, esposa do homenageado; Sra. Wayniere Maria Lopes Valim, Assistente Estadual da Diretoria no Estado do Rio Grande do Sul; Sra. Aparecida Custódio Bianchi, Assistente Estadual da Diretoria no Estado de Santa Catarina; Prof. Alfredo Santos, representando o Sr. Secretário de Educação; Cel. Ilander Pinto Correa, Diretor de Pessoal da Brigada Militar, representando a Brigada Militar, e o Dr. Francisco José Moech, representante da OAB.

Em nome do Legislativo da Cidade de Porto Alegre, para encaminhar a homenagem ao Sr. José de Paiva Netto falarão os Vereadores Luiz Braz, Raul Casa e Hermes Dutra.

Inicialmente, usará da palavra o Ver. Luiz Braz, que falará em nome da Bancada do PMDB e também como autor da proposta desta homenagem.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhores e Senhoras presentes nesta homenagem. O mundo está em crise. Isto não é coisa nova. Desde o início dos tempos, os povos se digladiam em busca de conquistas materiais. Cada um por si. O máximo de egoísmo, de vaidade, tem sido quase que uma grande regra geral. Os mais fortes sobrepujando os mais fracos, pisoteando-os, destruindo-os. Esta luta social tem sido a responsável pela formação de uma elite economicamente forte, muito embora quantitativamente pequena, e de uma multidão de miseráveis, de infelizes, daqueles que não vislumbram nenhum horizonte à sua frente.

Por estar quase que constantemente lutando ao lado deste verdadeiro batalhão de famintos por comida, por justiça, por melhores oportunidades de vida, não pude fechar meus olhos e meus ouvidos para uma organização que levantava a sua voz para pregar o amor e que colocava os seus legionários para mitigar a fome daqueles que a procuravam. Foi assim que eu conheci a Legião da Boa Vontade, com o seu idealizador, o Jornalista Alziro Zarur, através de seu programa na rádio Maurink Veiga, sensibilizando todo o Brasil.

Quando da morte de Alziro Zarur, o grande medo que invadiu o coração do povo, em todas as regiões, fui aquele que levava a pensar que com Zarur pudesse morrer também a sua grande obra, a LBV. Esse pensamento passava por nossas cabeças porque a maioria da nossa população, e me incluo nessa maioria, não conhecia o homem que trabalhava ao lado de Zarur. Seu nome: Paiva Netto.

Pode-se dizer que a LBV teve duas fases distintas. Uma, com Alziro Zarur, homem que teve a capacidade de idealizar esse grande e verdadeiro monumento ao amor, que é a LBV. A outra fase, com Paiva Netto, também com grandes ideais, mas, sobretudo, com uma capacidade incrível de realização. Graças ao seu dinamismo, ao seu senso de organização, a Legião da Boa Vontade cresceu de tal forma, que se fez presente em todos os Estados brasileiros e agora estende os seus laços amorosos para os irmãos de diversos países da América Latina e da Europa, sem contar com a semente que já está sendo lançada também nos Estados Unidos da América do Norte.

O trabalho da LBV está sintetizado na fé dos legionários em Jesus Cristo, procurando levar suas mensagens não de maneira falsa, ilusória, mas, sim, de forma realista, atual, como nos deixam bem claro essas palavras legionárias: “É preciso antes de tudo reeducar o homem e os governos em Cristo, porque assim eles saberão que a infelicidade dos outros será a sua própria infelicidade”. Um outro texto diz: “Entretanto, todos devem, corajosamente, preparar-se para a guerra, tanto no plano material quanto espiritual. Saibam que vem fogo, miséria, desânimo e desamor cada vez maiores para o mundo, até a hora do Armagedon, conforme anunciam o Evangelho e o próprio Apocalipse. Não seria solidário de minha parte deixar de alertá-los sobre isso”.

José de Paiva Netto é o grande articulador deste trabalho. Ele é o orientador, uma espécie de fonte revitalizadora para aqueles que pensam em fraquejar, para aqueles que não têm coragem de continuar a caminhada.

O Prof. Luiz Ignácio Domingues assim escreveu sobre Paiva Netto: “Sua personalidade está simbolizada por um farol, que projeta luz sobre um mar borrascoso e guia o navio que procura o abrigo acolhedor de um porto.”

Durante toda a sua trajetória, Paiva Netto tem demonstrado que herdou de Alziro Zarur toda a sua garra, sua tenacidade, sua firmeza. Suas opiniões abalizadas sobre temas polêmicos deixam-nos a visão real de que sua intenção é traçar um caminho, que é o da verdade, rota segura para todos aqueles que seguem em busca dos objetivos cristão. Podemos constatar isso quando nos deparamos com seus artigos, que se posicionam contra a pena de morte, que só pega o ladrão de galinha, o “zé povinho”, que já vive morrendo de fome; contra o aborto, dizendo que, se a mulher é dona de seu corpo, pelo mesmo raciocínio, o corpo do bebê é do bebê, que, se conseguir sobreviver à sanha dos seus assassinos, terá outra personalidade, outro caráter, será outro ser diferente de sua mãe; contra o racismo; contra os abusos que são cometidos em nome do futebol e do carnaval, normalmente utilizados como panacéia ou engodo para manter o povo na ignorância.

Falar de Paiva Netto é falar de amor, sentimento tão desprezado nos dias atuais, confundido, muitas vezes, com prazeres da vida material que nada têm a ver com a palavra. A fé de Paiva Netto, sua inteligência, sua sabedoria fazem com que, aos poucos, novos contingentes adiram a esta legião de benfeitores.

A idéia da LBV é que esta semente, plantada um dia por Alziro Zarur e cultivada eficazmente por Paiva Netto, possa tomar conta do mundo inteiro, modificando a perspectiva de catástrofe que tanto medo infunde aos incréus.

Queremos dizer ao ilustre homenageado de hoje o nosso “muito obrigado” pela ação da LBV aqui, no Rio Grande do Sul, e, especialmente, pela creche que mantém no Bairro Cristo Redentor, na Rua Dom Diogo de Souza, abrigando muitas crianças gaúchas e ensinando-lhes os verdadeiros valores da vida.

Logo após o recebimento deste título aqui neste Legislativo, o Diretor-Presidente da LBV seguirá para Gravataí, onde homenagem idêntica o aguarda - lugar onde a LBV mantém mais um internato com várias dezenas de crianças.

Esta Casa, no dia de hoje, fica dignificada com tão honrosa presença, e para mim, que tive a oportunidade de sugerir ao Plenário esta honraria, reservo-me o direito de deixar marcado indelevelmente em minha memória este momento de reverência ao amor real, tão brilhantemente defendido por um homem à frente de seu grande exército de legionários: José de Paiva Netto. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Raul Casa, que falará em nome do PFL.

 

O SR. RAUL CASA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores, reverencia o Legislativo porto-alegrense, neste momento, por iniciativa lúcida do Ver. Luiz Braz, um homem, uma obra, uma esperança. A cada vez que um cidadão e sua obra se destacam pela grandeza de sua ação, pelos serviços prestados à coletividade, é um dever de justiça se proclamar de público o reconhecimento a que faz jus.

Este ato se reveste de um significado que transcende a pessoa de nosso homenageado para dignificar uma obra. Há, pois, neste evento, um duplo sentido! O primeiro está na solenização do reconhecimento pelo seu trabalho. O segundo, ao proclamar o evento da tribuna do povo porto-alegrense a todos os quadrantes, adquire um sentido exemplar, constituindo-se estímulo aos demais concidadãos, enaltecendo o sentido social e moral de sua eternidade. É da tradição de nossa terra a consagração do mérito de todos quantos, através de seu exemplo, contribuem para a felicidade de nossa gente. Por isso se justifica esta cerimônia, constituindo-se um registro para a história de nossa Cidade, de que é arauto a Câmara Municipal de Porto Alegre.

Vive o mundo horas dramáticas. Naufragam os sistemas, falham as ideologias. As mais engenhosas e promissoras doutrinas arquitetadas por filósofos e pensadores se perdem no materialismo. Há uma ordem evidente no mundo. O sol nunca deixa de nascer. Invariavelmente, a noite sucede o dia, e a primavera o inverno. A lua segue sempre o mesmo ciclo. Da mesma maneira que os seres inanimados, os seres vivos são estruturados. O homem é a suprema obra da natureza e de Deus. A grandeza do homem está na moral. Aqueles que a desprezam podem ser grandes sábios, colossos de energia, mas nunca serão verdadeiros homens se não tiverem Deus no coração e nas ações.

Como colaborador da Legião de Boa Vontade, leio por dever e para ensinamentos o seu jornal, os artigos, os ensinamentos herdados de Alziro Zarur pelo nosso homenageado, José de Paiva Netto. Podem ser resumidos no lema: “A LBV é o coroamento de toda a evolução da humanidade”. “O que governa são os ideais,” cita José de Paiva Netto, quando lembra Vitor Hugo. É o exemplo do sucessor de Alziro Zarur um desses seres de inesgotável riqueza interior que, não querendo ensinar, ensina, que, não desejando convencer, convence, que, não querendo induzir, induz, que, não querendo ser líder, lidera. Poucos, raríssimos, são escolhidos. Recebem como uma dádiva de Deus este dom, e, quanto mais nobres, mais humildes. Muitos até procuram ocultar esta virtude, como a pedirem desculpas por serem o que são, como se fosse uma apropriação indébita ter, em abundância, a solidariedade, o calor humano, a intuição do meio. Por quê? Porque são estruturados na fé, no amor e no bem ao próximo.

Quando Alziro Zarur deixou esta terra seria preocupante o destino da LBV, tal a liderança e força de seu fundador. Eu também tive a honra de conhecê-lo. Mas um movimento como este, abençoado, com desígnios tão definidos, jamais perece, porque a Providência o provê. A bandeira de Zarur foi entregue a José de Paiva Netto. E aí está esta força a expandir o bem entre seus semelhantes. Esta é uma obra de amor. Por isso cresce. Podem os incrédulos desprezar, podem os descrentes agredir. Nada detém esta Legião porque são velhos e jovens, brancos e pretos, levando com alegria a esperança aos que pouco têm, e perspectiva aos desestimulados.

A tarefa é imensa. Não importam os percalços ou o tamanho das dificuldades, a beleza desta obra está exatamente na conquista pela bondade, generosidade e dedicação ao próximo sem avaliar sacrifícios e o tamanho da obra a implantar. É um exemplo para todos nós, políticos; é uma lição para a humanidade. O legado de Zarur tem continuidade com o nosso homenageado, nesta obra nascida em uma modesta casa da Rua Acre. É hoje uma obra gigantesca. A sensibilidade de Zarur percebeu que não poderia levar e haver evolução espiritual sem um mínimo de material. Daí, e disso, nasceu a “sopa dos pobres”. Seu amor está materializado numa creche, numa casa assistencial, num abrigo para idosos, num lar para crianças, num ambulatório, num gabinete dentário, numa escola de alfabetização, num curso profissionalizante. Todos podemos ajudar a obra da LBV.

O nosso trabalho deve ser como o da Legião da Boa Vontade, sempre em busca do bem comum. Por isso tudo, esta homenagem não só é justa como é merecida pelo homem e pela obra. Recordemos sempre, nosso querido homenageado, a assistência que coroa, gratifica e honra esta Casa. Palavras perenes, imortais do nosso grande Rui. Quando nós praticamos uma boa ação, não sabemos se seus frutos são para hoje ou para quando. A verdade é que podem ser tardios, mas são certos. Uns plantam a semente da couve para o alimento de amanhã, outros plantam a semente de carvalho para o abrigo do futuro. Há aqueles, egoístas, que plantam para si. Esses como V.Exa. plantam para o bem da humanidade, para o bem do gênero humano. E permita-me a assistência repetir, como Rui, no final de seu imortal discurso da “Oração aos Moços”, quando diz: (Lê.)

“Grande é a ciência, bem o creio; é a maior de todas as grandezas; mas abaixo da outra: a divina, que lhe há de sobrepairar eternamente. Deixem-me clamar assim, ao menos aqui, neste suave abrigo do espírito, a minha convicção, último fruto que me estende sazonado a árvore da vida: não sei conceber o homem sem Deus, e ainda menos acreditar na possibilidade, atual, ou vindoura, de uma nação civilizada e atéia. Envelhecerei na persuação do velho Plutarco, imaginando menos a custo uma fortaleza sem alicerces que um povo sem Deus. Milhares de anos resvalaram por sobre esta verdade, milhares hão de resvalar, sem que ela desmaie.

Não alcanço o ponto de vista de Sirius. Mas no ponto de vista da humana razão, ao menos até onde ela coincide com a minha, Deus é a necessidade das necessidades, Deus é a chave inevitável do Universo, Deus é a incógnita dos grandes problemas insolúveis, Deus é a harmonia entre as desarmonias da criação. Incessantemente passam, e hão de passar no vórtice dos tempos as idéias, os sistemas, as escolas, as filosofias, os governos, as raças, as civilizações; mas a intuição de Deus não cessa, não cessará de esplender, através do eterno mistério no fundo invisível do pensamento, como o mais remoto dos astros nas profundezas obscuras do éter. A realidade suprema, de onde nos cai perenemente esse raio de luz, é inextinguível. Mas de tão longe nos vem ele na imensidade do existir, que, ainda quando momentaneamente lhe pudéssemos supor apagado o foco remotíssimo, primeiro pereceria a humanidade que deixasse de ver aceso na extrema do horizonte esse ponto luminoso.

Deus, que fizestes estas montanhas, o globo que as agüenta, esses mundos que nos cercam, esses céus que nos envolvem; que esparzis as estrelas do firmamento e as flores da terra; que resplandeceis na santidade dos justos, e trovejais na consciência dos maus; que semeais na inocência das crianças, e colheis na experiência dos velhos, derramai a vossa misericórdia sobre esta casa, sobre aqueles que a povoam no trabalho, sobre este enxame de esperanças, que aqui continuamente se renovam, sobre essa vergôntea pequenina de minha alma, que aqui fica entregue aos vossos apóstolos, mas ainda mais sobre os que hoje os deixam, galardoados com os primeiros graus do saber, para se afrontar com outras lidas. Vós, que tendes nas mãos a força, a vida e a bondade, medrai-os na bondade, na vida e na força. Incuti-lhes nos corações as virtudes que formam o homem e as virtudes que criam os povos. Retende-os na fidelidade à vossa crença e aos vossos mandamentos, à inspirada palavra de seus mestres e aos bons exemplos de seus pais. Ponde-lhes na alma, com o amor da justiça e da liberdade, o sentimento da tradição e do respeito, o instinto da disciplina e da ordem. Misturai-lhes com a ternura pelos filhos a memória dos antepassados, esse gênero de gratidão, imarcescível das nações robustas. Dai-lhes, no perigo das lutas e na amargura dos sofrimentos, o heroísmo da coragem, o heroísmo da resignação, o heroísmo da humildade, o heroísmo do conhecimento aos vossos benefícios entre as calamidades que os escurecem aos olhos da fraqueza humana.”

Creio que este pensamento encarna e encerra muito bem aquilo que a LBV significa. Por isso, congratulo-me com V. Exa., congratulo-me com esta Casa e com o ilustre Ver. Luiz Braz, que propôs esta cerimônia num gesto da mais alta sensibilidade. Agradeço a oportunidade que me deram, e, creio, continuarei sempre como colaborador da LBV. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Hermes Dutra, que fala pelas Bancadas do PDS e do PDT.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais personalidades presentes, Deus deu ao homem o poder de, com sua mão, fazer a semeadura. E há o que semeia no pedregulho; há o que semeia em solo árido; e há o que semeia onde não viceja nada. Dessa semeadura quase tudo nasce; uns fornecem porque foram semeados no solo que não continha um adubo fundamental para vicejar, que era o solo do amor. Alziro Zarur, usando a faculdade que Deus lhe deu de semear, semeou em terra adubada com amor. A planta cresceu, ficou bonita, começou a ser vista e a ser notícia e se espalhou, qual tentáculos de amor, pelo Brasil inteiro e hoje já não vê mais as fronteiras físicas da nossa Nação.

Sr. José Simões de Paiva Netto, há homens que lutam e são bons; há homens que lutam e são importantes; há homens que lutam, lutam e são necessários, mas há homens que se dedicam a lutar por toda a sua vida. A esses não podemos prescindir; a esses temos de louvar, prestigiar, dizer ao povo que eles existem e o que eles fazem, e é o que esta Casa faz hoje, contribuindo modestamente com a LBV através da homenagem que faz ao seu Presidente na concessão maior que esta Casa pode dar, que é o título de cidadania. Bastasse apenas abrirmos os olhos, abrirmos os ouvidos ou a janela da nossa casa e teríamos mil motivos para não acreditar no mundo. Um mundo materialista, um mundo em que o terço pereceu, o mundo em que o homem não vale mais do que um objeto. Basta olhar para fora da nossa casa, quando não, raras vezes, dentro dela, e vamos ver que o amor passou a ser uma peça sobressalente para ser usado nas horas necessárias, esquecendo-nos, todos, da missão fundamental do homem sobre a terra, porque, se Deus nos deu o direito de sermos inteligentes, não interfere na opção que podemos fazer, dando-nos o direito de fazermos coisas que não devemos. E a LBV mostra que efetivamente não podemos nos contentar em abrir a janela, abrir os olhos ou com os ouvidos sentir que o mundo está a perigo. Mais vale, ilustre Presidente, acender uma vela do que maldizer a escuridão. A LBV, me perdoe, talvez, até a vulgaridade da comparação, mas, para que todos possamos sentir, digo que ela é um holofote nessa escuridão de falta de amor, de falta de sensibilidade, de falta de solidariedade. Obras assistências, meus amigos, nós as temos, e bastante, não em número suficiente, mas as temos.

Trouxe aqui para não esquecer, porque temia que, tendo em vista esta multidão... E, diga-se de passagem, é a primeira vez que esta Casa fica cheia e se sente o amor a pairar no ar... Fiquei com medo de esquecer e, da revista que recebi aqui quando entrei, tirei uma frase dita pelo ilustre Presidente da LBV. As obras assistências existem, como disse, mas a LBV não é uma obra assistencial, porque assistência qualquer um faz para amainar o sofrimento, mas o sofrimento maior, como disse o ilustre Paiva Netto, e me tocou de forma profunda, o maior sofrimento é a ausência de amor. (Palmas.) Então, não basta estender o pão ou o leite, mas há de se dar oportunidade de se atender a alma para que possamos, nós todos, também cumprir com a outra missão que temos nesta terra, que é de evangelizar, dizer aos outros que Deus existe, que Deus é o amor e que, apesar de muita gente insistir que a brisa que lhe sopra no rosto, que o pássaro que voa, que o sorriso de uma criança tem explicação científica, que a vida que viceja no útero de uma mulher tem explicação na maternidade, apesar disso, nós sabemos que tudo isso só existe graças a Deus.

Meu caro José de Paiva Netto, falo em nome do meu partido, o PDS e, por delegação honrosa, falo em nome da Bancada do PDT, que quiseram, nesta tarde maravilhosa e histórica para esta Casa, estar presentes, e dizer que, quando votamos, foi com prazer e com certeza de que estávamos a fazer justiça a um homem e a uma obra que se confundem e que separadamente não existem. Estávamos, todos nós, Vereadores desta Casa, a mostrar, não a Porto Alegre somente, mas a quem quiser ver e ouvir, que tem muita gente que acredita na assistência com amor. (Palmas.)

Esta Casa teve a oportunidade de fazer esta homenagem graças a um ato iluminado do Ver. Luiz Braz. E sabemos - e para ele faço justiça desta tribuna; não é novidade - que ele é do meio, que pratica assistência e a faz com amor. Trouxe para esta Casa a oportunidade de votarmos o título para S. Sa. Ao último orador não cabe nada mais, já que o discurso de maior conteúdo foi feito pelo proponente da Sessão e pelo ilustre Ver. Raul Casa, que me antecedeu, que souberam de forma magistral e ímpar relatar momentos que haverão de ficar guardados em nossa memória, relembrando não só esta Sessão, mas, sobretudo, o profundo significado de solidariedade e de amor que ela tem.

Quero, ao encerrar, pedir-lhes escusas porque me sinto um pouco emocionado. Emocionado, talvez, porque sinta em mim, e receba no meu corpo, como disse, esta aura de amor, esta aura de vontade de servir, de fazer o bem. A humanidade, infelizmente, ainda não abriu os olhos como um todo. Mas haverá um dia, José de Paiva Netto, em que o mundo será duas mãos somente levantadas para o céu. E não haverá mais sofrimento, não haverá mais dor - nem de espírito, nem de corpo. E esse dia, que haverá de chegar bem mais cedo do que esperamos, fará com que nós outros - que acreditamos no amor - possamos dizer, do fundo do coração: “Finalmente, o mundo de Jesus chegou.” Sou grato.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos informar ao nosso homenageado e a todos os convidados a relação da correspondência enviada para solidarizar-se na homenagem a José de Paiva Netto: Desembargador Bonorino Butelli, Presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul; Engº Rosendo da Costa Prieto, Secretário dos Transportes do Estado; Luiz Antônio Salvador, Prefeito Municipal de São Francisco de Paula; Odilon Almeida Meskó, Prefeito Municipal de Canguçu; Ivo Hadlich, Presidente da Câmara Municipal de Blumenau, Santa Catarina; Ângela Regina Heizen Amin Helou, Presidente do LADESC, de Florianópolis; Deputado Luiz Henrique, de Joinville; Celene Oliveira Brum, Diretora da Divisão Regional de Promoção Social do Litoral, Santos-São Paulo; Yapir Marotta, Diretor Regional do Dentel; Jânio Quadros, Prefeito da Cidade de São Paulo; Ivan Gualberto do Couto, PT, de São Paulo; Alceu Collares, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Espiridião Amin, Governador do Estado de Santa Catarina; Humberto Carlos Parro, Prefeito de Osasco, SP; Manoel Antônio Fogaça de Almeida, Secretário da Segurança Pública de Santa Catarina; Sra. Dionea Soares, Primeira Dama do Rio Grande do Sul; Sr. Pedro Lopes Taborda, Presidente da Associação dos Ferroviários Aposentados do Rio Grande do Sul; Sr. José Aidar Farret, Prefeito Municipal de Santa Maria - RS; Sylvio Heitor Alves Ramos, Comandante do 19º Batalhão de Infantaria Motorizada - São Leopoldo - RS; Clodoaldo Medina, Prefeito Municipal de Araraquara, SP; Odon Duarte Lopes, Coronel PM do Comando de Policiamento da Área Quatro, Montenegro - RS; Ney Sá, Procurador-Geral do Estado do Rio Grande do Sul; Ney Leite Xavier, Cel. Cav. CMT Regimento Osório - 3º RCG; Bernardo de Souza, Prefeito Municipal de Pelotas - RS; João Jorge Saad, Presidente da Rede Bandeirantes de Televisão; Oswaldo Justo, Prefeito Municipal de Santos - SP; Stelio Bobaid, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina; Ver. Icuriti Pereira da Silva, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Florianópolis; Ver. Haroldo Bachmann, da Câmara Municipal de Blumenau - SC; Norival da Rosa Botelho, Diretor Administrativo da Câmara Municipal de Florianópolis; Francisco Martin Gimenez, Conselheiro Vice-Presidente do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, e João Elisio Ferraz de Campos, Governador do Estado do Paraná.

Convido a todos para, de pé, ouvirem e cantarem o Hino Nacional.

 

(É executado o Hino Nacional.)

 

A seguir, convido o Ver. Luiz Braz a passar às mãos do Sr. José de Paiva Netto o título honorífico de Cidadão Emérito.

 

(É feita a entrega do título.)

 

Com a palavra, o nosso Cidadão Emérito, José de Paiva Netto.

 

O SR. JOSÉ DE PAIVA NETTO: É um dia de muita emoção para todos nós, pois, naturalmente, a homenagem não é só para mim. Ninguém faz nada sozinho. Isso estou sempre repetindo nos programas e reuniões da LBV. Esta homenagem é também aos legionários, ao povo de Porto Alegre e de todo o Rio Grande do Sul que, de braços dados conosco, da LBV, realizam essa obra material e espiritual em beneficio do povo, povo esse representado aqui pelas autoridades da Câmara Municipal, tendo à frente o seu Exmo. Presidente, Ver. André Forster. Quero agradecer ao Ver. Luiz Braz, propositor da homenagem, que tem uma esposa extraordinária - Dona Mara, que nos recebeu no aeroporto e com tanta fraternidade que nos impressionou profundamente. Na reunião que eu tive com representantes da LBV do Brasil, esta madrugada, na sede da Sucursal, eu não pude deixar de prestar uma homenagem a sua esposa, em primeiro lugar porque eu acredito muito no trabalho da mulher. Grande parte do sucesso da LBV se deve à presença da mulher. Se não fosse minha esposa, que me deu nove filhos, eu não teria a projeção que tenho hoje na Legião da Boa Vontade. Isso acontece com todos que aqui estão, casados ou não. Também ao nosso prezado irmão - permita-me que o trate assim, porque foi o tratamento que Jesus deixou para a humanidade: “tratai-vos por irmãos” - Raul Casa e também ao Hermes Dutra, que, com Luiz Braz, fizeram aqui discursos antológicos, porque os verdadeiros discursos antológicos nascem do coração do ser humano. O cérebro sozinho não vale nada. O cérebro sozinho é a instrução que tem levado o mundo à guerra. Há que se unir o cérebro ao coração, instrução com educação, para que a humanidade possa sobreviver às crises que comumente ela vive. E eles falaram aqui pelo coração. Esses discursos ficarão sempre marcados para nós. Tanto que eu disse ao Hermes - não tive oportunidade de dizer ao Raul nem ao Luiz, mas digo agora - que vou publicar esses discursos no meu próximo livro. Não porque sejam discursos de uma homenagem feita para minha pessoa - sem vocês eu não sou nada; sem amor, a gente morre seco; as almas sem amor são almas secas -, mas porque nesses discursos eles foram em profundidade ao significado da LBV. Porque, como está naquele nosso pensamento, o maior sofrimento é a ausência de amor. O que vem matando a humanidade é, justamente, a falta de amor. Muitos me perguntam qual a razão do sucesso da LBV. Lá em São Paulo, o dirigente de uma casa famosa para crianças excepcionais, a Casa André Luiz, costuma dizer que a Legião da Boa Vontade é um fenômeno espantoso. E realmente o é, porque ela vem saciar o espanto que aflige a humanidade há séculos, que é a necessidade de sentir-se amada. Pode ser o Maguila, que é nosso amigo, o boxeador, com toda aquela força e os títulos que ele está tirando; pode ser o maior comandante, do maior exército, da nação mais poderosa do mundo; o maior ditador; pode ser o maior cientista; o maior sacerdote - todos, sem exceção, têm necessidade de amor, porque Deus é o amor, como dizia Jesus, e sem Deus ninguém pode sobreviver, nem mesmo os irmãos materialistas. (Palmas.) O significado e o segredo da LBV é esse; é um segredo espantoso, porque ela vem atender a uma exigência espiritual do povo brasileiro, e não só do povo brasileiro.

Não se passaram sete dias e eu recebi uma notícia que me comoveu a alma, porque tenho procurado realizar todas as promessas feitas pelo amigo e professor Zarur, o qual ouvi durante os vinte e cinco anos que ao seu lado trabalhei - dos quatorze anos aos trinta e nove, quando ele faleceu. Faz sete anos. Meu Deus, vinte e cinco anos de trabalho ao lado de um homem extraordinário! Todas as homenagens que recebo procuro transferir para ele. Ninguém, homem nenhum na terra, pode viver sem o alimento espiritual, senão Jesus não teria destacado tanto amor. E pouco antes da crucificação ele virou-se para os seus discípulos - está no Evangelho de S. João, cap. 13, versículo 34: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”. Nisto reconhecerão todos que são todos seus discípulos: “se vos amardes como eu vos amei”. A minha grande luta - porque de profissão sou jornalista e radialista - tem sido mostrar à sociedade que o Evangelho de Jesus não é um tratado de letras mortas. É um documento sobre o qual os sacerdotes devem se debruçar, é um tratado da mais alta política que o ser humano já viu na Terra, porque Jesus tinha essa capacidade. Ele atingia o problema de base do ser humano, e creio eu que a política tem por missão resolver os problemas de base do ser humano, não resolver os problemas de bases sociais, mas os problemas do ser humano, aliados à religião, à ciência, à filosofia, à economia. É preciso que haja uma aliança de todos os estratos do pensamento criador porque senão não adianta. Não vivemos uma sociedade de departamentos estanques, principalmente quando sobre a humanidade paira o perigo da guerra nuclear, essa paranóia tremenda. Na LBV, quando tocamos nesse assunto, o fazemos porque estamos diante de fatos consumados, mas em qualquer instante sentimos temor perante isso. Nós acreditamos na força do amor que se manifesta das formas mais surpreendentes; é o amor que se manifesta, não é o ódio que faz com que a humanidade sobreviva. Por isso o povo ama a Legião da Boa Vontade. Ela é universal. Por isso há esse reconhecimento universal da LBV. Vamos erigir em Brasília um templo - é uma promessa de Zarur - ecumênico, irrestrito. Pode parecer uma redundância, pois ecumênico quer dizer universal, mas não é. Há pessoas que entendem ecumenismo como restrito. Nós não. Se é universal, é para todos. Lá vamos colocar esses pensamentos, nesse templo de pedra. Vivemos um mundo materialista. É preciso um lugar onde os homens possam se abrigar da chuva, das intempéries de clima, das intempéries sociais e humanas. Há necessidade de um templo de pedra. Então, como é uma transição para o terceiro milênio, para uma sociedade mais fraterna, em que o amor sempre vença o ódio, e Ruy Barbosa, citado pelo Ver. Raul Casa, sempre acreditou na força do amor, então dizemos que nesse templo até as pedras falarão que Deus é espírito e não importa que seja adorado em espírito. Em verdade, Jesus disse que um dia seria assim, e sempre estará aberto a todas as criaturas humanas, inclusive aos materialistas de boa vontade, porque quando eles dizem que não acreditam em Deus é por se confundirem com aqueles relatos patológicos da História, quando, em nome de Deus, muito sangue rolou. Afirmam, então, acreditar na solidariedade humana, e esta é sinônimo de Deus; afirmam acreditar na fraternidade; afirmam acreditar na inteligência. Tudo isso é sinônimo de Deus, porque todos concluem, mesmo na hora da morte, que existe uma sabedoria superior dirigindo os nossos destinos, porque não há efeito sem causa - diz a Física humana. Ora, baseados nisso, nesse enunciado da Física, dizemos, e pelo mesmo raciocínio, que, se somos efeito inteligente, só pode ser de uma causa inteligente, e esta causa inteligente é Deus! 

O Prof. Alfredo Santos, representando o Secretário da Educação; o Cel. Ilander Pinto Correa, representando a garbosa Brigada Militar; o Dr. Francisco José Moesch, representando a OAB; o Sr. João Magalhães Neto, representando o Delegado do 1º Distrito da Polícia Civil; o Sr. Carlos Ferreira de Rezende, todos nos honrando aqui, entendem essa palavra porque são seres humanos. Existe um fio miraculoso, um denominador comum que une todos os seres da terra, do Ocidente, do Oriente, do Norte e do Sul. E as crises crescentes pelas quais a humanidade tem passado - e outras virão, porque vivemos o fim de ciclo apocalíptico; é o fim de século e o fim de milênio - são uma convergência de encerramento que deve chamar a atenção dos estudiosos dos fatos sociais, dos fatos políticos, dos fatos religiosos. Todas essas épocas de transformações pagam pesados tributos ao exagero. É o que nós temos visto na humanidade, porque houve um grande progresso material, e o progresso moral e espiritual, infelizmente, não acompanhou o progresso material, e daí toda esta confusão. É o tributo que a humanidade paga, neste momento de transformação profunda, num momento de convergência de três encerramentos - o Apocalipse, século e milênio. Mas como nós escrevemos, naquela nossa banda sobre Constituinte, que o “Correio Brasiliense”, o “Estado de São Paulo”, outros jornais do Brasil publicaram, até fora do Brasil, que depois da tempestade sempre vem a bonança, a questão é não desistir nunca.

A Legião da Boa Vontade é um disparador psíquico dos talentos do povo, e quando nós fomos homenageados pelo Congresso Nacional, a 27 de maio deste ano, isto foi pronunciado também naqueles discursos, e mostra ao ser que se considera o mais desprezível da face da Terra que ele tem um padrinho, que é Deus, que ele tem um pai, que é Deus, que ele tem, pelo menos, os seus anjos guardiães, que não são visíveis aos olhos humanos, mas nem por isso deixam de existir. Grandes transformações já estão sendo gestadas no ventre da Terra. E estão aí, a todo o momento, aparecendo. Quando eu escrevo nos jornais que notícias consideradas hoje como de última página, de pé de página, em breve serão manchetes de primeira página, que os colegas de imprensa, do rádio e TV, forçados e pressionados pelo instinto humano de sobrevivência, passarão a tratar destes assuntos com seriedade, absolutamente, não estou exagerando, e é uma característica da LBV dizer as coisas antes que os outros as digam, e nós mesmos lemos constantemente estas afirmativas, desde Alziro Zarur, serem confirmadas.

Quero agradecer aos amigos da Câmara Municipal de Porto Alegre, esta Casa do Povo. Seremos eternamente gratos por podermos estar hoje aqui. Nós tivemos que fazer uma mexida profunda na nossa agenda. Tanto que, na semana que vem, teremos que visitar o Rio, Brasília, Minas Gerais e Araçatuba, em São Paulo. Mas eu não poderia deixar de vir a um Estado que lutou por ser brasileiro, a um Estado cuja presença é profunda na História do Brasil, marcante mesmo. Você sempre encontra um gaúcho, ou uma gaúcha, porque, como dizem os juristas na França, “cherchez la femme” - há sempre uma mulher. Se há um homem na História, há sempre uma mulher, pelo menos a mãe, que deu vida a esse homem. E há sempre uma mulher e há sempre um homem do Rio Grande do Sul nos momentos em que o Brasil pede socorro, nos momentos decisivos da história deste País, cujo instante, na história do mundo, já está soando.

Como eu dizia, não faz sete dias recebi a grande notícia, para nós, legionários, e para nós, brasileiros, que a Legião da Boa Vontade ganhou personalidade jurídica nos Estados Unidos da América. A Suprema Corte Norte-Americana concedeu à LBV o direito de funcionar nos Estados Unidos da América, como aconteceu em Portugal, na Argentina, na Bolívia, no Paraguai e tantos outros países. Por quê? Será que a LBV precisa ir aos Estados Unidos fazer caridade, abrir creches, lares para velhinhos, ambulatórios médicos? Não! É como aqui foi pronunciado: ela não é somente uma instituição que trata da fome do estômago. Porque seria demais, para o Brasil, ir fazer caridade material para os Estados Unidos da América. Porque na LBV nós compreendemos, como escrevemos naquela página que nos pediram sobre a Constituinte: se o corpo humano precisa do material, o espírito do homem precisa do pão da liberdade, e liberdade nós só conhecemos, na advertência de Jesus, através do conhecimento da verdade de Deus. Conheceremos a verdade de Deus e a verdade de Deus nos libertará. Naturalmente, quando eu falo em Deus, eu não falo no Deus antropomórfico. Eu falo do Deus Divino que Zarur canta no seu poema. Existe uma eletricidade que nós não vemos, mas conhecemos os seus efeitos, como alguém que não vemos com os olhos materiais, mas antevemos os seus efeitos. Ela vai para os Estados Unidos porque ela, a LBV, está aqui neste livro de Mário Bringeri, que publicou esta minha página a respeito da LBV, da qual lerei um trecho para encerrar este meu bate-papo, já que estamos em casa - aqui é a Casa do Povo, e eu sou povo. Eu costumo dizer que a elite do Brasil é o seu povo e uns colegas meus de imprensa de São Paulo dizem que eu venho com essas novidades, mas o povo está passando fome. Eu digo. Justamente, eu digo isso para que o povo compenetre-se do seu talento e deixe de passar fome pelo seu próprio esforço, porque ninguém algema a consciência de um homem livre. Toda aquela condição de privilégio na educação, no alimento, no vestir, nas oportunidades, tem que chegar até ele, porque a riqueza de qualquer país está no coração de sua gente. É dos braços do povo que nasce a riqueza da nação mais insignificante. Tiremos o povo e a nação desaparece; vira danação.

Mas aqui está: “Vencer o sofrimento do corpo e da alma”. Geralmente,  fundam-se instituições filantrópicas tendo em vista apenas aqueles que são necessitados de bens materiais, daquilo que os olhos vêem - o sofrimento humano, porque a dor não existe só nos barrancos, nos charcos. Nas madrugadas, a LBV recolhe os mendigos pela cidade espalhados. Esses são os mendigos verdadeiros socorridos pela LBV. A dor está também nas mansões, nos apartamentos de luxo, nos palacetes, onde o amor nem sempre habita, e não há maior sofrimento do que a ausência do amor. Nos ambientes mais ricos, há mães que choram a incompreensão dos filhos e há filhos que sofrem com a incompreensão dos pais. Há esposas que sofrem com a leviandade dos maridos e maridos que sofrem com a leviandade das esposas. Visitei favelas como também apartamentos de luxo na Av. Atlântica, no Rio de Janeiro, onde nasci. A necessidade de espírito é mais profunda que a miséria material. No final, somos todos irmãos, falíveis, necessitados de Deus, clamando por paz, entretanto esquecidos de que ontem, hoje, agora e sempre o caminho da paz legítima é o amor de Jesus, através do conhecimento da verdade de Deus, porque Jesus, o Cristo, o Senhor da Paz, é o único amigo que não abandona amigo no meio do caminho, e somente ele pode limpar o coração humano de todo o ódio. Mas Jesus morreu, pode dizer alguém. Não morreu. O ideal de fraternidade, o ideal humanístico, um ideal com esta força de espírito não morre. Se criadores de doutrinas firmadas no materialismo estão vivos pelas suas idéias até hoje, como é que um ser que traz uma idéia que vem satisfazer a carência maior de qualquer ser na face da terra poderia ter morrido? As idéias não morrem, e o Cristianismo é uma idéia atualíssima, iluminando o caminho dos homens, e somente ele pode limpar a raça humana de todo o ódio, pois, como diz o fundador da LBV, Alziro Zarur, nenhum sofrimento é vão, nenhuma lágrima se perde; a vida humana é apenas uma preparação para a verdadeira vida. Não há uma lágrima que Deus não veja. E quem não chora sua lágrima secreta? Deus guarda todas as lágrimas para toda a eternidade. As lágrimas dos pobres e as lágrimas dos ricos. Diz o Mestre Jesus no seu Santo Evangelho - para mim o maior tratado de política de todos os tempos: “Vinde a mim todos vós que estais exaustos e oprimidos e eu vos aliviarei. Sem mim nada podereis fazer. Eu sou a árvore, vós sois os ramos. Nada podereis fazer sem a minha proteção. Não se turve o vosso coração nem se arreceie, porque eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo. Eu não vos deixarei órfãos. Novo mandamento vos dou: amai-vos uns aos outros como vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: dar a sua vida pelos seus amigos, e nisto conhecerão todos que sois realmente meus discípulos, se vos amardes como vos amei.” E alerta ainda, o Divino Senhor, no seu Apocalipse, o mais importante livro da Bíblia Sagrada na atualidade mundial, porque anuncia o que denominamos na LBV de jornalismo apocalíptico, a notícia mais importante de todos os tempos: “Jesus está chegando. Lembra-te, pois, arrepende-te e volta à prática das boas obras, senão virei a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro caso não te arrependas. Não temas as coisas que irás sofrer; sê fiel até a morte e eu te darei a coroa da vida. Eis que venho sem demora e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras. Eu sou o alfa e o ômega, o primeiro e o último, o princípio e o fim. Eu, Jesus, enviei o meu anjo para os testificar estas coisas às Igrejas; eu sou a raiz e a geração de Davi, a brilhante estrela de manhã. O espírito e a noiva dizem: ‘vem’; aquele que tem sede da palavra de Deus venha; e quem quiser receba de graça a água da vida; aquele que dá testemunho destas coisas diz; certamente venho sem demora. Amém. Ora vem Jesus. A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos.”

Diante disso, já que acreditamos que Jesus é a religação da vida, não é só para ser lembrado nos veneráveis templos religiosos. Concluímos assim: é imprescindível orar e vigiar, mormente nas ocasiões de crise. Ninguém irá dizer que o Dr. Alexis Carell, Prêmio Nobel de Medicina, era um fanático religioso, um sonhador. Em seu famoso livro “L’ homme cet inconnu” - O Homem, este desconhecido - destaca o extraordinário valor da prece através de observações feitas no Hospital “Charitée”, onde era diretor, em Paris, França. Reparou que os homens que tinham fé, conforme sua devoção religiosa (sou contra o sectarismo; se você está bem na sua religião, permaneça nela), mais rapidamente recebiam alta no hospital. Ninguém pode acusá-lo de ser um sonhador - era Prêmio Nobel de Medicina. Por isso digo: devemos orar nos momentos de crise. A oração fortalece o homem. Se não souber orar, aprenda. Converse com Deus acerca do seu problema, e duvido que não lhe venha uma inspiração, um conselho nascido da própria experiência da vida. A vida, hoje, é uma corrida nessa humanidade do progresso material excessivo. Progresso nunca é excessivo, mas é necessário um progresso moral e espiritual também. Por isso digo: os políticos também devem orar. É imprescindível orar e vigiar, mormente nas ocasiões de crise, qualquer que seja o momento e o lugar, porque a dor não tem hora para bater na porta do nosso coração.

Estou acostumado a viver esses problemas e, quando encontro uma pessoa que diz “eu não, Paiva, deixa isso”, penso com os meus botões: esse é o mais necessitado, porque conheço a vida dele; nós somos colegas, estamos conversando sempre; eu sei que ele tem problemas em casa, tem problemas com os filhos. Quem é que não tem? Às vezes a esposa com o marido, o marido com a esposa ou com os pais, ou falta dinheiro, falta compreensão. Uma pessoa está azeda naquele dia - daí uma crise que não tem mais tamanho! Todos têm necessidade de um fortalecimento que não vem pelas leis humanas. A todos, pois, diante dessa necessidade, porque orar é como abastecer as baterias do corpo, dedicamos a maravilhosa prece que Jesus enviou, como uma meditação nos instantes de dor:

“Pai nosso, que estás no céu e em toda parte ao mesmo tempo / Santificado seja o Teu nome, Venha a nós o Teu reino de Justiça e de Verdade / Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu / O pão nosso, mas o pão transubstancial de cada dia, dá-nos hoje / Perdoa as nossas dívidas na medida em que nós perdoarmos as dos nossos devedores / E não nos deixes cair em tentação / Mas livra-nos do mal, porque Teu é o reino / o poder, a honra e a glória para todo o sempre. Amém e Amém.”

Essas palavras pronunciei em Brasília quando fui convidado para abrir uma exposição cultural da LBV. Nelas procurei expressar o significado da LBV e as razões do seu sucesso no contexto da sociedade brasileira, pois todo o mundo tem necessidade de reconhecimento. É uma das necessidades básicas do ser humano. Este é um tema que minha esposa gosta sempre de discutir comigo lá em casa. Quem disser que não quer ser amado, penso que é um mentiroso ou doente. Dá no mesmo, porque amor não é um sentimento somente, mas o princípio básico do ser, fator gerador de vida que está em toda parte, e tudo isso é Deus. Este é o combustível que mantém funcionando a Legião da Boa Vontade, uma instituição que não tem subvenções oficiais nem a ajuda de grupos poderosos, sejam estrangeiros ou nacionais, também porque não pedimos. E explicava à Dona Mara e ao repórter da Rede Bandeirantes de Televisão que me entrevistaram: não porque sejamos pobres soberbos, mas porque nós acreditamos na capacidade realizadora do povo brasileiro e de todos os povos. E, se a Legião da Boa Vontade é mesmo uma realidade que o povo necessita, o próprio povo virá sempre em socorro dela, trazendo todos os meios necessários a sua sobrevivência. No dia em que o povo não precisar da LBV, não a ajudará mais. Também a LBV estará muito feliz porque terá cumprido a sua missão, mas isso é uma coisa difícil, pois a LBV trata da carência maior, e mesmo que, só para argumentar, todos os governos do mundo tivessem resolvido o problema de necessidade material da sobrevivência humana, a humanidade ainda precisaria de caridade, pois caridade é sinônimo de amor, e amor será ou é, como tem sido, como o foi, uma urgência para a nossa sobrevivência, como algo além de um corpo que sua, e que, se não tomar banho, fede. Somos muito mais do que isso. Como disse Jesus, somos espíritos criados à imagem e semelhança em espírito. Como o corpo precisa do sangue que circula nas artérias e veias para não gangrenar, o espírito humano precisa de amor, e que ele circule nos pontos mais distantes deste universo entre os homens para que também a alma não gangrene. O amor é a vitamina do espírito. E é por amor que estamos aqui.

Agradecemos esta homenagem do povo de Porto Alegre. Deus está presente! Viva Jesus em nosso coração para sempre! (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Vamos ouvir agora, ao encaminharmos o encerramento da Sessão Solene, a música “Brasileirinho”, de autoria de Alziro Zarur, fundador da LBV, e musicada por Darci Augusto Malheiros. (Cantam.)

 

O SR. JOSÉ DE PAIVA NETTO: Este hino Zarur escreveu quando tinha dezessete anos, em 1932. A melodia é do Prof. Darci Augusto e foi cantada pela Mocidade Legionária do Rio de Janeiro, acompanhada pela banda do 1º Batalhão de Guarda do Comando Militar do Leste. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Ao encerrarmos, gostaríamos de expressar, em nome da Mesa Diretora do Legislativo de Porto Alegre, a satisfação e a rara oportunidade sentida hoje neste ato, nesta Sessão Solene de entrega do justo e merecido título de Cidadão de Porto Alegre a José de Paiva Netto, que acabou não sendo apenas uma Sessão Solene, mas foi um ato maior pela informalidade com que se conduziu nesta mensagem de amor que a LBV deixou exposta a todos nós. Que uma parte deste amor fique impregnada nas paredes desta Casa para conduzir as decisões que aqui se tomam em benefício da população de Porto Alegre. (Palmas.)

A José Simões e sua esposa os nossos agradecimentos pela sua vinda, bem como a todos aqueles que nos acompanharam nesta solenidade e às autoridades presentes que atenderam o convite para esta Sessão Solene.

Nada mais havendo a tratar, agradecemos a presença dos senhores convidados e convocamos os Srs. Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental.

Estão levantados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 15h50min.)

 

Sala das Sessões do Palácio Aloísio Filho, 2 de outubro de 1986.

 

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